27 abril 2011

Poder e representação: teatrocracia em Moçambique (6)

O sexto número da série, que no seu título usa um termo de Georges Balandier, teatrocracia.
O terceiro ponto do sumário que vos propus é o que chamei poder comicial.
Este é um ponto fulcral na história política do nosso país, ponto que não vou encerrar nesta postagem.
Ponto fulcral com três tipos de gestão: gestão de multidões, gestão da oratória e gestão do espectáculo.
Vamos ao primeiro tipo de gestão. A multidão é o desejo veemente do líder, grande ou pequeno, falando na capital cosmopolita ou na modesta sede do posto administrativo. Nos comícios, o líder tem a seu pleno cargo lúdico a gestão cerimonial - panorâmica e vertical - dos súbditos presentes, ele num estrado ou num palanque rodeado de assistentes e convidados com ar respeitoso, súbditos em baixo, de pé regra geral, expectantes, supresos, fascinados com o espectáculo. Gestão cerimonial meticulosamente preparada por uma corte de funcionários. Quanto mais gente estiver presente mais o líder se convence de que tem a seus pés a nação inteira em formato concentrado. A gestão cerimonial está intimamente associada a um certo tipo de relato jornalístico que acentua a presença de multidões felizes e faz passar a ideia forte de que o líder é amado por muitas pessoas. Capacidade de juntar muitas pessoas é vista como produto de legitimidade política.
Imagem: el poder, quadro do pintor e ceramista argentino Raúl Pietranera).
(continua)

1 comentário:

Salvador Langa disse...

E a galeria continua, interesse a crescer.