25 março 2008

Existe o zicoísmo? (8) (prossegue)

Prossigo a série com o título em epígrafe.
Escrevi que o zicoísmo é um sistema a dois níveis, enquanto enunciado e enquanto realização de expectativas.
Já me debrucei sobre o enunciado. Falta agora pronunciar-me sobre a realização de expectativas.
Não existe ainda no nosso país um estudo sobre a sexualidade, sobre as representações sociais da sexualidade, sobre a sua historicidade, sobre a sua produção pública e privada, sobre os segredos do corpo, do seu uso e do seu imaginário, sobre o seu uso amoroso mas também político e laboral (tenho escrito um pouco sobre isso neste diário), sobre os tabus, os pecados, as virtudes, os riscos. É todo um imenso campo analítico por desbravar.
Todavia, creio que após o colonialismo e a revolução - ambos os sistemas muito puritanos e muito severos para com o corpo e para com a sexualidade publicamente enunciada -, o corpo, a sexualidade e a curiosidade sexualizante surgem com força crescente a partir dos anos 90, com tudo aquilo que, por exemplo, a novela brasileira, o cd/dvd e a net passaram a permitir, ampliando consideravelmente o raio de acção do cinema.
A afirmação capitalista no país passou a ser também a afirmação da liberdade de tratar o corpo sem rebuços, de tratar a sexualidade como um tema normal, de enfrentar o nu, o exposto, como coisa normal da vida, subvertendo a paisagem do conveniente, das regras de pudicidade, a moral das gerações mais velhas ciosas do império moral sobre o corpo, especialmente sobre o corpo feminino. A antropologia do vestuário do corpo feminino jovem nas nossas cidades, especialmente na de Maputo - digamos, por exemplo, o corpo-tchuna-baby -, mostra claramente quanto o corpo se libertou de muitos freios.

11 comentários:

Anónimo disse...

Citando: Alvin Toffler, em “A Terceira Vaga”, 1984:

 “Até agora, a espécie humana suportou duas grandes vagas de mudança, cada uma das quais obliterou largamente anteriores culturas ou civilizações e substitui-as por modos de vida inconcebíveis para os que chegaram antes. A Primeira Vaga de mudança – a revolução agrária – levou milhares de anos a esgotar-se. A Segunda Vaga – a ascensão da civilização Industrial – levou uns meros trezentos anos. Hoje a história é ainda mais acelerativa e é provável que a Terceira Vaga a assole e se complete em poucas décadas. Nós, os que compartilhamos o planeta neste momento explosivo, sentiremos portanto o impacto da Terceira Vaga no decorrer da nossa própria vida.”

 “Esta nova civilização é tão profundamente revolucionária que desafia todas as nossas antigas suposições. Velhas maneiras de pensar, velhas formulas, velhos dogmas e velhas ideologias, por muito queridos e úteis que tenham sido no passado, já não se coadunam com os factos. O mundo está a emergir rapidamente do choque de novos valores e novas tecnologias, novas relações geopolíticas, novos estilos de vida e novos modos de comunicação, exige ideias e analogias, classificações e conceitos inteiramente novos. Não podemos meter à força o mundo embrionário de amanhã nos cubículos convencionais de ontem”.

 “No entanto, ao explorarmos as muitas novas relações que estão a surgir … descobrimos subitamente que muitas das próprias condições que originam os maiores perigos de hoje também abrem novos e fascinantes potenciais... no próprio meio da destruição e da decadência podemos encontrar espantosos sinais de nascimento de vida. Demonstra claramente e, creio, inquestionavelmente que – com inteligência e um mínimo de sorte – a civilização emergente pode tornar-se mais sã, sensata e sustentável, mais decente e mais democrática do que qualquer que jamais conhecemos”.

 “Numa época de mudança explosiva – com a vida pessoal esfrangalhada, a ordem social existente a desmoronar-se e um novo modo de vida fantástico a emergir no horizonte – fazer as maiores perguntas acerca do nosso futuro não é meramente uma questão de curiosidade intelectual. É uma questão de sobrevivência”.

> Florêncio

Carlos Serra disse...

Obrigado pelo comentário, que faz pensar.

Nkhululeko disse...

Sandra Manuel tem estudado a sexualidade em Mocambique. Penso que neste momento faz o doutoramento na Inglaterra.
Abraco

Carlos Serra disse...

Obrigado pela informação, tentarei saber como contactá-la.

Anónimo disse...

Bom dia Professor. Sexualidade como um campo a desbravar, talvez ate os campos que achamos desbravados podem continuar a ser desbravados. Desculpem-me alguns amigos que nao sabem estar a escrever isto, tenho-os alguns mesmo por baixo do CEA que estudam sexualidade, incluindo muitos dos topicos que o professor levanta, mas tambem referencias sobre muitos outros realizados em Mocambique. Basta descer e consultar no Departamento de Arqueologia e Antropologia, tem gente que trabalha essa tematica.

Anónimo disse...

(Não existe ainda no nosso país um estudo sobre a sexualidade). Com o devido respeito, mas como tera o professor chegado a essa conclusao, que parece-me problematica? Mas talvez se explicar o que designa por sexualidade fique facil perceber o alcance da sua afirmacao, que e por sinal muito forte, e pode ser tambem depreciativa para aqueles que trabalham e apresentam trabalhos sobre Mocambique e que consideram ser dessa sobre sexualidade.

Carlos Serra disse...

Não tive qualquer intenção de ofender quem quer que fosse. Agradeço-lhe a correcção. Lamento nao saber com quem falo. Parece que trabalha aqui no CEA?

Anónimo disse...

Algumas vezes o homem, se torna aquela especie rara formidavel. outras "in"felizmente, se torna é um "Tzundrua", ou seja Sangue- suga. Um pau de dois gumes. Penso que o debate nao se insere, penso eu na questào da sexualidade, apenas, é mais profundo ainda, ou nao é nada profundo, está mesmo à superfície, tudo é provável. Vamos fazer o diagnostico social, como habito, como se o diagnostico por si so, fosse a solucao das causas.

Proponho que no final do dia, depois do stress de trabalho, nao importa de que tipo, voltassemos um pouco para dentro de nos, i perguntassemos assim, quantos Zico temos nas nossas casas, que saim à tona, so porque ainda nao perderam os seus Telemoveis, ou se perderam nao apanhados por pessoas desonestas e mal intenciuonads. Pena né. enfim a vida é mesmo isso. Fingimento e cobardia, ao mesmo tempo que reviramos a vida dos outros, fazemos justica pelas nossas proprias mentes, engracado né.

Anónimo disse...

Viva o zicoísmo

Anónimo disse...

O Zicoismo e um mal publico. Gente como Zico nao tem pudor e deve ser julgado de acordo com o estipulado na lei. Zico cometeu crime publico, em qualquer outro pais seria julgado e condenado. Aqui pelo menos ja lhe cortam contratos fabulosos ... dam. Ha-de pagar um dia diria um amigo meu, eu ca acho que mesmo assim a familia da moca deve processar Zico por uso abusivo da imagem desta moca. Qual sera o seu futuro? Abaixo a prostituicao na Bang Entertainment.

Anónimo disse...

MANUEL, S. (2008) Love and desire: Concepts, narratives and practices of sex amongst youths in Maputo city, Dakar, CODESRIA.