29 outubro 2007

Não se enerve, chape-se!

Você quer conduzir na cidade de Maputo? Não conduza, não pode, não deve, o chapa 100 não deixa. Você está chapado. Você vai a conduzir e de repente, ali na Julius Nyerere, por exemplo, em frente ao luxuoso edifício da Miramar (IURD) ou do lado contrário, junto à entrada de serviço do Hotel Polana, você quer passar e não pode e fica à espera, em enorme fila de viaturas, que o chapa se chape andando? Você quer ir ver os seus familiares falecidos no cemitério de Lhanguene e leva um século a chegar à campa por causa dos chapas que, se ainda não chapam dentro do cemitério, é apenas por ligeira distracção? Você vai casar-se e chega tarde ao casamento e ao coração da noiva porque os chapas lhe ocupavam toda a alma, um após um, paragem após paragem? Você vai a atravassar uma rua e cai-lhe um chapa em cima fazendo-o acordar morto logo de seguida? A vida está uma chapice? Então você não vê que é direito de chapista chapá-lo? Não vê que é direito de chapista parar onde e quando quer, até porque na chapação há sempre um cidadão de mão estendida mandando parar o chapa? Você está preocupado com a fumarada desalmada que chapa dos escapes chapados dos chapas? Você está preocupado com a desumada condição em que viajam os passageiros, sardinhas em lata, gado em curral estreito? Você enerva-se, você dispara palavras feias? Mas por que se preocupa você com esse múltiplo isso, por que se úlcera gastricatiza se a vida é assim, chapada, se a vida é uma chapice? Não há polícia? E se há, não tem moto? E se há e tem moto nada muda? E se nada muda mesmo na cobrança da coca-cola para o fim-de-semana? Não se enerve, cidadão, não se enerve: chape-se! Transforme o chapa em natureza, sua natureza. Contra a natureza não se luta: vive-se, sente-se, chapa-se.

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