25 abril 2007

Afonso Dhlakama

Costumo ensaiar dividir-me, regra geral sem êxito, nas minhas duas almas: a do estudante do social e a do cidadão. E assim vou, uma vez mais, tentar. Em relação a quê? Em relação a duas posições do presidente da Renamo, a saber: primeiro, que nunca se sujeitará à Procuradoria-Geral da República caso o seu sobrinho, o Homo Sibindycus, ganhe na queixa que depositou acusando-o de violência; segundo, que mantém a sua determinação em fazer com que a Renamo mate os polícias que violarem as regras de controlo dos postos de votação.

I - Posição do estudante
As posições de Dhlakama não são nem boas nem más, não são nem justas nem injustas: são apenas posições políticas. As posições políticas são eficientes ou deficientes. Mais nada do que isso. O presidente da Renamo joga com aquelas que acha serem eficientes. Acusam-no de ser um rio tumultuoso. Mas ele riposta, bem à Brecht, argumentando que as margens que o comprimem é que são responsáveis. Disse Weber que o Estado é o proprietário dos meios de violência legítima? Pois ele, Dhlakama, general de quatro estrelas, defende que tem o legítimo direito de também ser proprietário. Por quê? Porque não há em Moçambique um Estado neutro. O Estado que existe é o da Frelimo. E os polícias são da Frelimo. Por isso não irá nunca à Procuradoria da República. O procurador Madeira é bom homem, mas é a Frelimo quem nele manda. E, depois, há ainda, pairando forte, o espírito do acordo geral de paz de 1992. Ora, o velho Hobbes disse um dia que sem a espada os acordos não passam de palavras. Por isso Dhlakama anda de espada desembainhada na proximidade das eleições. E ter a espada desembainhada é um estratégia que obriga o adversário a ser comedido a vários níveis, em particular no que aos locais de votação concerne.

II - Posição do cidadão
O cidadão que há em mim interroga-se, de forma muito severamente moral, sobre a postura cívica do presidente da Renamo, um presidente de partido que almeja desde 1994 ser o presidente da República. O cidadão de mim interroga-se bem no coração do senso comum, esse órgão mental, como dizia Hannah Arendt, que nos faz perceber, compreender e reagir perante a realidade e os factos. E por isso como cidadão serei, aqui, muito piegas. Então, que presidente pode Dhlakama ser com semelhante linguagem castrense, após tantos anos de guerra, metendo Aks-47 em permanência nas palavras perante o seu povo? Que gestão civil coerente poderá algum dia assegurar com o permanente recurso à ameaça? As ameaças e a violência não geram legitimidade, mas medo. Medo e resistência. Medo, resistência e cansaço. Os resultados das últimas eleições, ainda que eu tome em conta as irregularidades havidas, podem denunciar, já, um cansaço popular com a falta de originalidade renamiana. E com a sistemático recurso ao papel de vítima. E que ser é Dhlakama para se furtar à lei? Mais: se um dia for presidente, estará disposto a aceitar a tese frelimiana de que a polícia é da Renamo? Finalmente: suspeito que de cada vez que Dhlakama dispara a sua AK-47 verbal as embaixadas ganham úlceras gástricas.
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Pode acontecer que, como é meu hábito, artesanal hábito, aqui volte para corrigir ou mudar algo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Na primeira posicão talvez ainda valha Dhlakama ao seu pronunciamento contínuo. Também há gente que afirma que em muitos países africanos os estados não têm ainda o monopólio dos meios de violência sendo por causa disso que eles, os estados africanos são ainda fracos...

A segunda posicão é a que muitos, penso eu, têm como preocupacão se bem que Dlhakas pretende realmente ser presidente de Mocambique. Duvido que ele ainda o pretende ser. Talvez esteja ele a enganar aos membros do seu partido, qd de facto ele está muito satifeito com o que é agora. Embora saibamos que ele está a mentir que nunca iria responder à PGR, já que o conhecemos como muito pentiroso e menos na assinatura do AGP, é preocupante com afirmacões dele... Que confianca Dlhakama tem de que se intormissão da polícia ele vai ganhar eleicões? Pq Dhlakama não se preocupa ser diferente do Guebuza e a Renamo diferente da Frelimo para ganhar mais membros e simpatizantes?... Enfim, até nem consigo escrever mais. Imagino de que desgosto ele cria aos membros de bom-senso da Renamo.